Na ausência de história de toma de ferro oral, ou de etilismo crónico, a hemossiderose gástrica difusa corresponde a uma patologia extremamente rara, somente descrita em case reports, habitualmente em associação com a hemocromatose (primária ou secundária) e casos de eritropoiese ineficaz (talassémias alfa e beta graves; síndromes mielodisplásicos). A terapêutica passa pela utilização de quelantes de ferro, ou de flebotomias.
Os corpos estranhos ingeridos atravessam o tubo digestivo sem complicações em 80% dos casos, sendo rara a perfuração do tubo digestivo. Contudo, a ingestão de objetos pontiagudos pode causar complicações em 35% dos casos podendo requerer remoção endoscópica ou, menos frequentemente, cirúrgica. Apresentamos o caso de um abcesso hepático causado pela provável migração transgástrica de corpo estranho.
A gastroenterite eosinofilica (GE) é uma doença rara, caracterizada por sintomas gastro-intestinais (sendo a dor abdominal o mais comum) e pela infiltração eosinofilica do tracto GI sem outra causa que explique a eosinofilia. É comum a associação com atopia ou alergias alimentares.
A colonoscopia tem vindo a ser cada vez mais requisitada, nomeadamente, como exame de rastreio para o carcinoma coloretal, sendo que, a preparação intestinal assume um papel de destaque no que concerne à qualidade diagnóstica desta técnica. No entanto, a preparação intestinal não é isenta de complicações. A alteração do estado de consciência é uma complicação possível, e é devida a alterações hidro-eletrolíticas associadas a perdas gastrointestinais. O coma por hiponatrémia severa é uma complicação rara e há poucos casos divulgados.
A síndrome DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms) é uma reação de hipersensibilidade sistémica caracterizada por dermatite exfoliativa e rash maculopapular, linfadenopatia, febre, eosinofilia e envolvimento de órgãos internos, como o fígado e o trato gastrointestinal. O diagnóstico é difícil porque as suas manifestações clínicas mimetizam as encontradas noutras doenças sistémicas graves.
Os tumores neuroendócrinos do pâncreas (NEPTs) são neoplasias raras, e degenerescência cística dos mesmos é um fenómeno ainda menos frequente, com poucos casos descritos na literatura. O diagnóstico pré-operatório é habitualmente difícil, podendo ser impossível de diferenciar de outras neoplasias císticas pela ausência de sinais imagiológicos específicos e por não segregarem marcadores tumorais. Este caso vem reafirmar que apesar de raros os NEPTs devem ser excluídos no diagnóstico diferencial das lesões císticas pancreáticas pelo seu potencial maligno, sendo fundamental a avaliação citológica e bioquímica do seu conteúdo.
A cateterização da veia porta durante a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é uma complicação muito rara. A esfincterotomia, a formação de um falso trajeto pelo fio guia e a presença de fístulas portobiliares foram implicados como possíveis mecanismos.
A necrose esofágica aguda é uma condição rara, associada a úlceras duodenais em 1/3 dos casos. Esta associação favorece um mecanismo de parésica e refluxo gastro-esofágico, facilitado pela volumosa hérnia, com alteração do fluxo sanguíneo esofágico. Esta condição deve ser interpretada como um fator prognóstico adverso, subjacente à condição clínica de base. Apresentam-se iconografia endoscópica e histológica.
O adenocarcinoma gástrico mantém-se como uma das principais causas de morte relacionadas com cancro em todo o mundo. Uma minoria dos casos apresenta-se na forma de células em anel de sinete, tendo um pior prognóstico. A disseminação é feita na maioria dos casos por via hematogénea e linfática, envolvendo frequentemente o fígado, pulmões, osso e sistema nervoso central. As metástases cólicas de adenocarcinoma gástrico são extremamente raras, com menos de 15 casos descritos na literatura, e habitualmente apresentam-se como "linite plástica" ou estenose anelar, sendo necessário excluir o cancro colo-rectal com células em anel de sinete.
A leptospirose é uma zoonose provocada pela bactéria Leptospira spp. que pode estar associada em cerca de 10% dos casos a um quadro de icterícia grave e falência multiorgânica com insuficiência renal, insuficiência hepática e trombocitopenia. Relata-se este caso pelo desafio diagnóstico e forma de apresentação pouco comum, realçando a importância da leptospirose no diagnóstico diferencial das doenças hepáticas.