Saber definir prioridades é uma das chaves para que se consigam garantir cuidados adequados, no âmbito da Gastrenterologia. Neste sentido, a Semana Digestiva dinamizou uma sessão sobre “Patologia do intestino delgado: prioridades em 2023”, onde Cristina Chagas, conjuntamente com Sandra Lopes, foram moderadoras e onde especialistas, que se destacam pela sua experiência prática e pela execução de estudos clínicos ou publicações recentes na área, apresentaram várias temáticas.
“Começámos por abordar o tema da qualidade em cápsula endoscópica e enteroscopia, discutindo os indicadores de melhor prática na execução destas técnicas e as recomendações atuais. De seguida, abordámos o estado da arte, no que se refere ao tratamento médico e endoscópico das angiectasias do intestino delgado, uma vez que esta patologia, em doentes em regra com comorbilidades importantes, constitui ainda em muitos casos um desafio para o gastrenterologista”, assinalou Cristina Chagas.
“O small intestinal bacterial overgrowth (SIBO) atualmente muito debatido, nomeadamente no que se refere aos métodos de diagnóstico, às suas reais implicações clínicas e à escolha de um tratamento eficaz, foi também um dos temas em destaque”, frisou a médica, apontando ainda a apresentação conduzida por Cristina Carretero, da Universidade de Navarra, que evidenciou o estado da arte da abordagem com pan endoscopia por cápsula na monitorização da Doença de Crohn.
No que diz respeito à pertinência do tema em análise, a profissional de saúde recordou a importância dos métodos endoscópicos de diagnóstico e tratamento. “O intestino delgado foi até há algumas décadas um órgão de difícil acesso aos métodos endoscópicos de diagnóstico e tratamento. O aparecimento da cápsula endoscópica e da enteroscopia permitiram um maior conhecimento e uma melhor abordagem das patologias que envolvem este órgão cuja importância é cada vez mais reconhecida em Gastrenterologia”.
Relativamente à perspetiva que apresenta sobre os moldes que irão estruturar o futuro da sua especialidade, a moderadora sublinhou o evidente papel da tecnologia. “A aplicação da Inteligência Artificial na endoscopia digestiva será cada vez mais uma realidade. As fronteiras entre Gastrenterologia e Cirurgia Digestiva serão cada vez mais ténues, uma vez que a aplicação de novas técnicas endoscópicas avançadas na resolução de um número crescente de patologias digestivas, antes só solucionadas por cirurgia, tornam o gastrenterologista cada vez mais capacitado e com um papel central reforçado não só no diagnóstico, mas também na prevenção e no tratamento de toda a patologia digestiva”.
Já sobre a Semana Digestiva, enquanto ponto de encontro para o conhecimento mais aprofundado em Gastrenterologia, no panorama nacional e internacional, Cristina Chagas realçou a evidente procura pela ligação com outras especialidades, nomeadamente a Medicina Geral e Familiar, Cirurgia Geral, Anatomia Patológica e Imagiologia. “É um momento, por excelência, de atualização do conhecimento científico mais recente em Gastrenterologia, onde os resultados dos principais estudos científicos portugueses são comunicados e onde são discutidos os desafios que se colocam à nossa especialidade”, apontou a moderadora.
Por fim, a especialista partilhou ainda que, além do domínio destas temáticas, considera que ser médico constitui um enorme desafio pessoal, que envolve responsabilidade, disponibilidade, espírito de sacrifício, humildade, bom senso e a procura constante de novo conhecimento científico e da melhor prática médica.