Ao exame objetivo apresentava estabilidade hemodinâmica, abdómen indolor e à radiografia abdominal não apresentava pneumoperitoneu. A endoscopia digestiva alta (EDA) identificou úlcera na vertente inferior da transição bolbo-2ª porção duodenal, de grandes dimensões e profunda, com cerca de 30 mm, com hematina. Após 3 dias de internamento, por recidiva das perdas hemáticas, com necessidade transfusional, o doente foi submetido a uma 2ª EDA. Nesta foi identificado vaso visível, sem hemorragia ativa, na úlcera já descrita. Após colocação de um 1º clip through-the-scope (TTS), desencadeou-se hemorragia de alto débito. Apesar da colocação adicional de 2 clips TTS e injeção de adrenalina diluída a 1:10000, não foi possível cessar a hemorragia, com desenvolvimento de instabilidade hemodinâmica. Iniciou-se suporte hemodinâmico emergente e, após avaliação pela equipa de Cirurgia Geral, foi decidida realização de laparotomia exploradora emergente. No bloco operatório, foi identificada perfuração duodenal contida pela vesícula biliar, tendo sido o doente submetido a piloroplastia tipo Heineke-Mikulicz, omentoplastia e colecistectomia, que decorreram sem complicações. O doente teve alta após 12 dias de internamento, com hemoglobina 9,7g/dL, sem recidiva hemorrágica e a tolerar dieta.O facto da perfuração se encontrar contida pela vesícula biliar poderá justificar a ausência de sinais de irritação peritoneal. A DUP complicada com perfuração constitui uma emergência cirúrgica, com mortalidade a rondar os 10%, particularmente agravada se ocorrer atraso no diagnóstico. Serve o presente caso para realçar que, apesar de francamente raro, a doença ulcerosa péptica pode se complicar simultaneamente com hemorragia e perfuração.