Métodos: Estudo de coorte retrospetivo incluindo todos os doentes com neoplasia falecidos ao cuidado da Gastrenterologia num hospital distrital (2012-2021). Recolhidos dados clínicos pela consulta dos processos.
Resultados: Incluídos 176 óbitos, 80% com patologia maligna (carcinoma hepatocelular-35%, estômago-16%, pâncreas-15%, colangiocarcinoma-14%, outros 20%),68% homens com idade média 71±12 anos. Um terço tinha ECOG 0-1 anteriormente à admissão hospitalar, 77% doença avançada (estadio IV/BCLC C&D). Em 24% o diagnóstico foi inaugural. Verificou-se uma mediana de 2(0-5) internamentos nos últimos 6 meses. Os doentes estiveram hospitalizados 17±10dias no último mês de vida. Foi apurada a presença de cuidador disponível em 56% dos casos e documentado apoio espiritual apenas em 2%(n=2). Houve referência a dor não controlada em 26% dos doentes e utilização de opióides em 72% (> em doentes com CHC). Documentou-se discussão prognóstica com o doente e com a família em 35% e 69% dos casos, respectivamente. Pelo menos 73% dos doentes tiveram visitas no final de vida o que foi afetado negativamente pela pandemia covid (p=0,022). A referenciação aos Paliativos ocorreu em 60%(n=72) doentes com tempo mediano até à morte de 12 (IQR 3-18) dias. Em 50% realizaram-se procedimentos invasivos com sucesso técnico em 62% e clínico em 30% dos casos e tempo médio até à morte de 12±10dias.
Conclusão: 4/5 dos doentes falecidos a cargo da Gastrenterologia tinham o diagnóstico de neoplasia. Na nossa amostra, verificou-se em elevado tempo de internamento no último mês de vida e elevada percentagem de exames potencialmente fúteis (70%), alertando para a necessidade de definir métricas de qualidade de morte neste contexto.