Para minimizar a realização de procedimentos invasivos e sedações na gravidez, optou-se por realizar ecoendoscopia diagnóstica e terapêutica. Após punção aspirativa com drenagem de líquido claro, sem string sign, procedeu-se a cistogastrostomia com cistóstomo e colocação de duas próteses de duplo pig-tail. Contudo, o líquido apresentava um valor elevado de CEA (211 ng/ml) e amilase baixa (46 U/L), sugerindo uma etiologia mucinosa do quisto. A citologia foi negativa para atipia.
Optou-se pela realização de esplenopancreatectomia corpo-caudal às 18 semanas de gestação, após discussão multidisciplinar com a Obstetrícia e Cirurgia Geral. A peça operatória confirmou tratar-se de um cistadenoma mucinoso, sem displasia. A restante gravidez decorreu sem intercorrências, culminando no nascimento de um recém-nascido de termo saudável.
Apresentamos este caso pela sua raridade e vertente didática. Os quistos pancreáticos mucinosos apresentam estroma semelhante ao ovárico, com recetores de estrogénio e progesterona. Raros casos destes quistos volumosos estão descritos na gravidez, alguns com evolução para adenocarcinoma, sendo a sua correta identificação fundamental para um
tratamento adequado. Ainda que os exames imagiológicos não o sugiram, perante a detecção de um quisto volumoso do pâncreas na gravidez, deverá ser sempre equacionada a hipótese de lesão quística mucinosa. Embora a resseção cirúrgica seja de elevado risco na gravidez, protelar esta intervenção pode condicionar o prognóstico.