A Semana Digestiva 2017 marcou a renovação de grande parte das direções das sociedades e grupos científicos envolvidos. É o caso da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED), da qual o Prof. Doutor António Dias Pereira se despede enquanto presidente.
O testemunho é passado agora ao Prof. Doutor Mário Dinis Ribeiro, que assume a liderança da SPED após ter desempenhado o cargo de vice-presidente. Uma eleição ocorrida na Assembleia Geral da Sociedade e que, para o Prof. Doutor António Dias Pereira, é prova do reconhecimento pelo trabalho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos, validando as escolhas e estratégias tomadas pela anterior direção.
“Qualidade, formação, acessibilidade e cooperação”. Para o Prof. Doutor António Dias Pereira foi em torno destes conceitos que a SPED procurou desenvolver a sua atividade e reforçar o seu papel no panorama gastrenterológico nacional e, dentro de cada um deles, tomadas posições e decisões com vista à melhoria do estado da arte da endoscopia digestiva. No rescaldo da Semana Digestiva 2017, o diretor do serviço de Gastrenterologia do IPO de Lisboa partilhou com a News Farma o seu balanço de dois anos de mandato.
Qualidade
Para o presidente cessante da SPED a qualidade é “um fator de elevada importância para a afirmação da endoscopia digestiva portuguesa na sua generalidade”, razão pela qual a direção propôs à tutela a adoção de mecanismos de auditoria, tendo apresentado indicadores através dos quais se podem medir essa mesma qualidade. Outra das iniciativas levada a cabo foi a adaptação e divulgação das guidelines da Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva.
A SPED procurou também fazer “pressão” junto das autoridades de saúde sobre “a necessidade de se renovar e modernizar o parque endoscópico nacional, que nos últimos anos tem vindo a sofrer uma degradação, provavelmente devido à crise económica que atravessámos”, refere o Prof. Doutor António Dias Pereira. Para sustentar esta tomada de posição da SPED, foi realizado um inquérito nos serviços de Gastrenterologia dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, com o objetivo de se conhecer a realidade.
Outra das ações realizadas foi a proposta de uma certificação standard garantida pela SPED para os vários equipamentos que se encontram em utilização para a realização de relatórios endoscópicos.
Ainda, o Prof. Doutor António Dias Pereira adianta que a SPED criou “uma checklist para a realização de exames endoscópicos, que está ainda em discussão publica, e cujo objetivo é o de promover e assegurar a segurança dos doentes, dos profissionais e dos equipamentos”.
Formação
Já no campo da formação, a principal mudança verificada foi a reformulação do Curso de Introdução à Endoscopia que, tal como explica o médico, “era previsto para os internos do primeiro ano”. Nesta direção, o Curso foi ampliado de forma a abranger “os cinco anos do internato”. Uma transformação que contou com a cooperação da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG). Relativamente à componente prática do Curso, que inclui treino em simulador, “decidimos e concretizamos condições para que o simulador circule pelas três zonas do continente, de forma a tornar esta uma formação mais acessível e próxima dos jovens especialistas”, refere.
No que diz respeito aos apoios à investigação, o Prof. Doutor Dias Pereira garante que as bolsas e estágio de investigação continuaram a ser uma aposta da Sociedade, sendo que em 2016 estas foram inclusivamente aumentadas.
Acessibilidade
Sobre a acessibilidade, o presidente cessante da SPED refere “a grande pressão sobre os serviços públicos para promover a acessibilidade da endoscopia, sobretudo num aspeto que consideramos fundamental: o rastreio nacional do cancro do colon e reto”. E acrescenta: “no decurso do nosso mandato houve um despacho do secretário de Estado Adjunto e da Saúde que veio programar o início deste rastreio nas Administrações Regionais de Saúde até ao final do ano de 2016 e, para o final de 2017, prevê que este rastreio esteja 100% no terreno e com cobertura nacional”.
Cooperação
A estabilidade da relação da SPED com a SPG e a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) foi outra das preocupações da direção anterior, bem como o estreitamento das relações com o Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal (GEDII), a nível nacional, e com a Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva, a nível internacional. Também a cooperação entre países lusófonos mereceu o empenho da direção, servindo por exemplo o trabalho desenvolvido com o Hospital Central de Maputo “no qual a SPED promoveu um levantamento das condições da realização da endoscopia”. Juntamente com a SPG e a APEF, a SPED passou em 2016 a assumir o financiamento da revista GE - Portuguese Journal of Gastroenterology, recentemente indexada na base de dados da PubMed.
Mas apesar do balanço positivo, o presidente refere que a falta de financiamento para as ações da SPED tem representado uma dificuldade acrescida e uma barreira a muitas das iniciativas que poderiam ser colocadas em prática.
Semana Digestiva 2017: quatro dias de intenso trabalho e convívio entre os gastrenterologistas
Enquanto vice-presidente da comissão organizadora da Semana Digestiva 2017, o Prof. Doutor António Dias Pereira vê com orgulho a elevada participação registada nesta edição do congresso. “Todas as salas estavam repletas de pessoas”, participando e contribuindo para as discussões em torno dos principais temas da Gastrenterologia atual. Também o Curso Pós-Graduado, que este ano teve como organizadora a SPED, foi “um sucesso” para o especialista, que sente todo o trabalho dedicado a esta iniciativa inteiramente recompensado pela “assistência e participação ativa” verificada. “Penso que foi um dia que teve algum significado na formação dos gastrenterologistas portugueses”, afirma.
Referindo-se a momentos “que não eram habituais na Semana Digestiva”, o Prof. Doutor António Dias Pereira destaca a sessão “Nós os Gastrenterologistas”, que permitiu aos participantes conhecerem “realidades completamente diferentes” do que significa ser um gastrenterologista em diferentes países de expressão lusófona, mas também Espanha. Ainda, a introdução de um programa paralelo dirigido à Medicina Geral e Familiar – o GastroDigest 2017, foi para o Prof. “uma experiência inovadora e muito divertida, que marcou pontos na Semana Digestiva 2017”.
No âmbito dos interesses da SPED, o vice-presidente do congresso destaca ainda a partilha de conhecimentos sobre cancro do colon e reto e a “afirmação dentro da Semana Digestiva 2017 da área da endoscopia digestiva”, com diversas sessões de comunicações orais e posters a versar este tema. No geral, “os serviços de todo país apresentaram uma vasta produção científica que demonstra uma alta qualidade naquilo que os gastrenterologistas portugueses fazem, em termos de investigação básica, translacional e clínica”.
O Prof. Doutor Dias Pereira dedica ainda uma palavra de apreço ao Prof. Doutor Rui Tato Marinho, que na sua perspetiva foi “um verdadeiro líder” e “o culpado de tudo aquilo que correu bem”, tendo conseguido juntar uma equipa coesa e altamente motivada em tornar a Semana Digestiva 2017 um evento científico de sucesso.