Além das funções atribuídas por ser membro da Comissão Organizadora e Científica da Semana Digestiva, Sandra Lopes foi ainda palestrante da sessão “Doença Inflamatória Intestinal: Questões da prática clínica”, moderada por Jaime Ramos e Ana Isabel Vieira, onde respondeu à pergunta “Como integrar na prática clínica os dados da vida real dos inibidores da JAK Cinase?”.
Esta mesa integrou o conjunto de três iniciativas sobre a Doença Inflamatória do Intestino (DII), uma patologia que atinge cerca de sete mil a 15 mil portugueses e que ronda os 2,9 casos por cada 100 mil habitantes por ano com colite ulcerosa, assim como 2,4 por cada 100 mil com doença de Crohn. “Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento acentuado da incidência da Doença Inflamatória do Intestino (DII). A idade de início apresenta dois picos de maior incidência, essencialmente um entre os 15 e os 30 anos, e um segundo entre os 60 e os 80 anos. São doenças crónicas com impacto significativo na qualidade de vida dos doentes”, assinalou Sandra Lopes.
Em primeiro lugar, foram abordados por Eunice Trindade os aspetos relacionados com a transição de um doente pediátrico com DII para a clínica de adultos, visto ser crucial assegurar uma transferência cuidadosa da responsabilidade para a Medicina dos adultos e a integração mais ativa do jovem na gestão da própria doença.
De seguida, foram revistos por João Bruno Soares os aspetos da terapêutica farmacológica, cuja escolha depende do tipo de doença (doença de Crohn versus colite ulcerosa), da sua localização e da sua severidade. Outros aspetos tidos em conta foram a eficácia e a segurança de cada fármaco, as caraterísticas do doente, tal como os custos. Foram incluídos a terapêutica convencional (salicilatos, corticosteroides e agentes imunossupressores), tratamentos biológicos e pequenas moléculas, cujo alvo é o bloqueio de um mediador inflamatório, ao invés de exercer uma ampla imunossupressão.
“A escolha do tratamento é primordial uma vez que a eficácia de cada fármaco é menor no subgrupo de doentes já com falência a uma terapêutica biológica. No entanto, os inibidores da JAK mostraram eficácia na indução da remissão clínica e endoscópica independentemente da terapêutica prévia. O problema inicial com este grupo terapêutico relacionava-se com questões de segurança, sobretudo relacionadas com o risco tromboembólico e infecioso. Estudos recentes de vida real vieram demonstrar dados consistentes ao longo do tempo compatíveis com um bom perfil risco-benefício do tofacitinib na colite ulcerosa moderada a grave”, resumiu a palestrante sobre o tema desenvolvido na sua apresentação.
Por fim, existiu espaço ainda para ser abordada a utilização de endoscopia na monotorização do doente com doença inflamatória intestinal, através da voz de Ana Patrícia Andrade, que colocou em evidência o papel dos exames endoscópicos na avaliação da resposta à terapêutica médica e no pós-operatório, e ainda no rastreio e vigilância da displasia e do cancro colorretal.
Pisando agora o palco da Semana Digestiva, o espaço que Sandra Lopes encara como um fórum de discussão da patologia digestiva, leva a especialista a refletir sobre as inovações da Gastrenterologia, dando ênfase ao fator personalização. “Eu acredito que a inovação tecnológica manter-se-á no futuro com a integração cada vez maior de Inteligência Artificial na prática clínica, sobretudo na área da endoscopia digestiva, para o diagnóstico e para o tratamento das várias patologias. O desenvolvimento de novas moléculas com alvos terapêuticos mais dirigidos e a utilização de uma medicina personalizada será muito importante na orientação terapêutica das doenças do foro digestivo”.