A sessão de abertura da Semana Digestiva 2022 marcou o arranque da reunião major da área, que, nesta edição, regressa ao formato presencial e à cidade do Porto, até 25 de junho. Figuras incontornáveis do panorama atual da Saúde, em Portugal, discursaram e abriram as portas ao debate para os congressistas, que encheram a sala. Os presentes puderam assistir, ainda, a uma mensagem deixada pelo Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa.

O Prof. Doutor Guilherme Macedo, presidente da comissão organizadora, endereçou uma palavra sentida a todos pela participação, tendo, por isso, definindo a SD22 como o expoente máximo dos eventos de Gastrenterologia, necessário para reforçar a identidade corporativa da especialidade perante os pares, decisores políticos e sociedade civil. Na sua visão, a SD22 atingiu uma envergadura mediática inédita, com mais de mil inscritos, esperando desta forma dias de exploração e interesse.

O congresso pretende colmatar desafios formativos e cativar as gerações a ser “tão apaixonadas” como as atuais, apelando aos jovens especialistas a que se mantenham dedicados a uma prática humanizada da Gastrenterologia, uma área “de excelência em termos científicos e na atividade social nacional e internacional”.

De seguida, o Dr. Fernando Araújo, atual Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de São João, felicitou a organização por tornar esta reunião num marco na agenda da Medicina, em Portugal. Assume que esta edição tem “outro encanto” e que, certamente, será fundamental para a criação de redes de conhecimento, e na promoção da formação e investigação. Tece elogios à Gastrenterologia, “uma das áreas que mais se pode orgulhar Portugal”, pelos prémios internacionais, publicações e prestígio dos clínicos portugueses, descrevendo a especialidade como uma das principais “joias da coroa” do CHUSJ. “A Gastrenterologia está bem viva”, aclama o ex-Secretário de Estado Adjunto da Saúde.

O Dr. Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, foi também protagonista da sessão, partilhando rasgados elogios ao evento e ao Prof. Doutor Guilherme Macedo pelo seu “trabalho notável”. Expressa que é um orgulho ter médicos da qualidade dos gastrenterologistas portugueses, com elevado critério formativo, vontade de fazer mais, e capacidade para integrar a inovação, o que “honra a Medicina portuguesa”.

Tecendo críticas construtivas ao panorama político, o Dr. Miguel Guimarães apontou a crise estrutural existente já com muito tempo, pelas suas limitações no capital humano, na autonomia, na flexibilidade em processos, e na ausência de “orçamentos reais” que permitam um investimento útil na área da Saúde.

Neste sentido, pede um novo modelo de gestão que permita colmatar as dificuldades no Serviço Nacional de Saúde, que não deixe “arrastar” situações, possibilitando aplicar planos elaborados de desenvolvimento nas diferentes áreas da Saúde.

Agradece aos médicos portugueses pelo “brilhante trabalho e liderança” demonstrados e desafia a um “pensamento conjunto sobre a Medicina e Saúde para o futuro''.

A Dr.ª Catarina Araújo, vereadora do Pelouro da Saúde e Qualidade de Vida, Juventude e Desporto da Câmara Municipal do Porto, destaca a importância da iniciativa, sobretudo nos parâmetros da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de patologias que afetam um terço da população. Lembra que a Saúde é um direito fundamental, e que devem ser desenvolvidas políticas públicas que permitam investir no fortalecimento da intervenção e da capacitação. “Só com comunidades envolvidas é que obtemos resultados de sucesso na Saúde e na qualidade de vida”, remata.

O Dr. António Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, iniciou o seu discurso confessando que o SNS precisa de reformas, e que são necessárias medidas estruturais e conjunturais. “Nunca me ouvirão dizer que está tudo bem. Temos obrigação de fazer mais e melhor em prol da Saúde dos cidadãos”, assegura. Acrescenta que o objetivo é um futuro coletivo sustentável, um SNS mais moderno, progressista e responsivo.

Enaltece o papel fundamental dos gastrenterologistas, que apelida de “mestres da tecnologia e da inteligência artificial”, clínicos que sabem reinventar-se. Alerta que os cancros digestivos representam um terço do total de problemas oncológicos e cerca de 10 % da mortalidade, em Portugal.

Declara, no entanto, que a saúde digestiva portuguesa é das melhores do mundo e que muito se deve à Gastrenterologia, que muito trabalha pela prevenção primária, pela literacia, e pelo tratamento das patologias de todo o sistema digestivo.

Por fim, a sessão de abertura culminou na exibição de um vídeo enviado pelo Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que elogiou o interesse inequívoco do evento, não só pelo cuidado na conceção do programa, mas também pela promoção de valores éticos e morais como a compaixão e humanidade. Referiu a honra que sentiu ao prefaciar o livro sobre os 60 anos da história da Gastrenterologia em Portugal, lançado hoje, e como se afirma essencial o regresso da Semana Digestiva ao formato presencial.

Confessa-se “adepto da atividade científica” da especialidade como beneficiário ativo há várias décadas, que fizeram de si atento a todo o desenvolvimento dos contributos da Gastrenterologia para a Saúde, que volta agora a deixar a sua marca com um importante fórum de discussão em Portugal.

A sessão chegou ao fim com um momento musical, protagonizado pelo Grupo de Fados de Medicina do Porto, com a performance de três temas que emocionaram o auditório.