Material: Estudo retrospetivo com análise das citologias do líquido ascítico realizadas entre 2016 e 2021 na nossa Instituição (N=293), com o objetivo de determinar a sua rentabilidade diagnóstica na deteção de células neoplásicas, bem como fatores clínicos, analíticos ou imagiológicos com maior valor preditivo para ascite neoplásica.Sumário dos resultados: A taxa global de positividade para células neoplásicas foi de 22,5%(N=66), sendo 81,8%(N=54) destas citologias positivas para (adeno)carcinoma, 7,6%(N=5) suspeitas para neoplasia e as restantes positivas para neoplasia de origem não epitelial. Dentro das citologias positivas para neoplasias epiteliais, 39%(N=23) foram sugestivas de origem ginecológica e 6,8%(N=4) de origem colorretal. Em 35,6%(N=21) não foi possível melhor caracterização histológica. Na análise por subgrupos clínicos com suspeita de ascite neoplásica, a maior rentabilidade diagnóstica da citologia foi verificada no grupo de doentes com evidência imagiológica de carcinomatose peritoneal (73,9%(N=17) das citologias positivas). Em doentes com ascite, sem doença hepática ou evidência imagiológica de neoplasia, apenas 32,5%(N=13) das citologias foram positivas, aumentando para 72,2%(N=13) quando excluídos desta análise doentes com insuficiência cardíaca descompensada. Nos doentes com cirrose hepática, a pesquisa de células neoplásicas foi negativa, quer no episódio de ascite inaugural, quer em episódios subsequentes de descompensação. No exame citoquímico do líquido ascítico, o predomínio de linfócitos (S:77,3%;E:30%) e gradiente de albumina sero-ascítico (GASA) <1,1 (S:90,9%;E:38%) apresentaram maior sensibilidade para citologia positiva para células neoplásicas.Conclusões: Perante achados imagiológicos de carcinomatose peritoneal ou ascite de novo em doente sem doença hepática ou insuficiência cardíaca, a citologia do líquido ascítico apresenta uma boa rentabilidade diagnóstica na deteção de células malignas, podendo ainda sugerir a origem primária da neoplasia.