Internada em janeiro de 2022 por quadro compatível com pancreatite aguda (dor abdominal em cinturão e hiperamilasémia de 667 U/L). Analiticamente, sem alteração das provas hepáticas. Da investigação etiológica da pancreatite excluíram-se causas metabólicas, infeciosas e medicamentosas. A ecografia abdominal mostrava edema peri-pancreático, sem evidência de litíase ou outras alterações de relevo. Nesse contexto, realizou TC abdominal que revelava dilatação do colédoco distal, sugestiva de formação quística, sem evidência de litíase biliar cálcica. A CPRM confirmou a dilatação (10 mm) da via biliar principal (VBP) remanescente, com defeitos de repleção no seu interior (eventual litíase). A doente foi submetida a CPRE que revelava uma anomalia da junção biliopancreática tipo Komi IIa e VBP intra-pancreática não dilatada com vários defeitos de repleção.
Após dilatação papilar, foi feita exploração e lavagem da VBP com saída de abundante conteúdo esbranquiçado, compatível com plugs proteicos. No final, colocou-se prótese pancreática plástica para assegurar drenagem pancreática e prevenção de pancreatite aguda. A doente evoluiu favoravelmente, tendo ficado orientada para a consulta de Cirurgia Pediátrica. Repetiu-se CPRE ao fim de um mês para extração da prótese pancreática e, mais uma vez, se atestou a clearance completa da VBP remanescente. Os quistos do colédoco são dilatações quísticas congénitas da via biliar, sendo que a sua excisão cirúrgica completa constitui o tratamento gold-standard. A sua excisão incompleta pode associar-se a complicações, entre as quais pancreatites agudas recorrentes por plugs proteicos, resultantes do refluxo e acumulação de secreções pancreáticas na formação quística biliar. Este caso retrata uma causa rara de pancreatite aguda e pretende demonstrar a utilidade e eficácia da CPRE no tratamento de uma complicação pós-cirúrgica.