"O futuro da preparação intestinal: Ainda há espaço para inovações?" foi o tema do simpósio promovido pela Jaba Recordati, no dia 21 de junho, no âmbito da Semana Digestiva, realizada no Algarve. A sessão contou com a presença de Diego Sánchez Muñoz, gastrenterologista e diretor médico do Instituto Digestivo IDI de Sevilha, Espanha, que apresentou uma análise sobre os avanços mais recentes nesta área vital para o sucesso das colonoscopias.

Diego Sánchez Muñoz iniciou a sua apresentação fazendo uma retrospetiva histórica das preparações intestinais até aos dias de hoje. "Atualmente, podemos resumir esses produtos a preparações à base de PEG e preparações não baseadas em PEG, como o citrato de magnésio com picossulfato de sódio e o sulfato oral", explicou o especialista. Esta evolução reflete-se nas guidelines da Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal (ESGE), que em 2019 atualizou as suas recomendações, validando clinicamente tanto os regimes à base de PEG de alto e baixo volume, como os agentes não baseados em PEG para a preparação intestinal de rotina.

O palestrante apresentou vários estudos comparativos sobre a eficácia das diferentes preparações. A esse propósito, afirmou que “temos dois produtos com grande eficácia na preparação intestinal", referindo-se às preparações à base de PEG-ELS (polietilenoglicol de baixo volume) e às soluções de picossulfato de sódio com citrato de magnésio (PSCM). Como informou, “ambas mostraram uma taxa de sucesso de limpeza, de 93,9% para o PSCM e 94,8% para o PEG-ELS, demonstrando assim, a não inferioridade do PSCM”.

Segurança e tolerabilidade

Mas será que todas as preparações são igualmente toleráveis ou seguras? Para o gastrenterologista esses são aspetos determinantes e cruciais na altura de decidir qual preparação escolher. De entre a vasta evidência apresentada, Diego Sánchez Muñoz destacou um trabalho, publicado no European Journal of Gastroenterology & Hepatology em 2018 [Mathus-Vliegen EMH. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2018 Jul;30(7):709-717], que comparou a limpeza intestinal com dose dividida de picossulfato e a solução de 2-L de polietilenoglicol. "Este estudo demonstrou que a limpeza intestinal com dose dividida de picossulfato é segura e mais bem tolerada que a solução de PEG", explicou o especialista.

Este aspeto é particularmente relevante para os doentes com insuficiência renal, salientou o médico, observando que a revisão das guidelines da ESGE de 2019 consideram agora que “em doentes com risco de distúrbios hidroeletrolíticos, a escolha do laxante deve ser individualizada”.

Inovações na preparação intestinal

Mas, apesar de todos os avanços nesta área, ainda há espaço para melhorias, como sublinhou Diego Sánchez Muñoz. "Em 2024, podemos melhorar ainda as preparações intestinais? A resposta é um sim redundante, e podemos consegui-lo em vários aspetos", reforçou.

Uma das áreas com maior potencial de melhoria é a dieta pré-colonoscopia. Um estudo publicado no Digestive Diseases & Sciences em 2022 [Samarasena, J.B et al. Dig Dis Sci 2022;67, 2358–2366] comparou uma dieta de baixo teor de resíduos de um dia com uma dieta líquida clara e os resultados foram surpreendentes. “72% dos participantes ficaram satisfeitos com a dieta de baixo teor de resíduos, contra apenas 37,68% com a dieta líquida clara”, informou o especialista, destacando que “isso é particularmente importante quanto sabemos que a dieta pode influenciar significativamente a preparação e ser muito desagradável para os doentes".

Também uma metanálise de estudos randomizados de 2024 [Wang F, et al. J Gastroenterol Hepatol. 2024 May;39(5):787-795] concluiu que “uma dieta de preparação para a colonoscopia de um dia foi tão eficaz quanto uma dieta líquida clara de três dias na qualidade da preparação intestinal antes da colonoscopia e melhorou significativamente a tolerabilidade dos doentes”.

Preparações ‘ready to use’ “uma das inovações mais promissoras”

Uma das “inovações mais promissoras” apresentadas pelo orador foi a preparação ‘ready to use’. Diego Sánchez Muñoz destacou a “experiência positiva em Espanha com a preparação líquida de picossulfato de sódio (Citrafleet^®), que já se encontra disponível no mercado desde há 3-4 meses”, considerando que “os resultados em termos de eficácia são bastante bons”. “A nova preparação ‘ready to use’ traz conforto aos doentes e permite obter os melhores resultados em termos de objetivos a atingir, dispensando misturar o pó em água para a sua administração”, afirmou.

Aliás, como destacou o médico, “a evidência existente mostra, inclusive, uma eficácia ligeiramente superior da solução pronta para beber de picossulfato de sódio, óxido de magnésio e ácido cítrico vs. a formulação em pó, com perfis de segurança e tolerabilidade semelhantes [Hookey L, et al. Ther Adv Gastroenterol 2019; 12:1-13].

Particularmente interessante foi igualmente a eficácia desta preparação ‘ready to use’ em grupos de difícil preparação. “Sabemos que é eficaz em doentes com excesso de peso e obesos, mostrando uma taxa de preparação “boa” ou “excelente” superior a 90%, acontecendo o mesmo no grupo das pessoas com mais de 65 anos”. [Hookey L, et al. Ther Adv Gastroenterol 2020; 13:1-10].

A segurança desta nova preparação pronta a usar em doentes com insuficiência renal ou diabetes também foi comentada pelo gastrenterologista que apresentou um estudo de 2021 que mostrou que a maioria dos doentes, incluindo aqueles com insuficiência renal leve a moderada e diabetes, avaliou a preparação como "excelente" ou "boa”. [Mankaney G, et al. Ther Adv Gastroenterol 2021; 14:1-12].

Em suma, como concluiu Diego Sánchez Muñoz, "estamos perante uma nova preparação que, para além de ter uma boa eficácia, também é eficaz em grupos de difícil preparação, o que representa um avanço significativo na nossa capacidade de realizar colonoscopias bem-sucedidas e confortáveis para os doentes."