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Apresentamos o caso de um homem de 67 anos, profissional de saúde, com antecedentes pessoais relevantes de doença de Crohn sob tratamento com Adalimumab há 5 meses. Antes do início da terapêutica foi submetido a testes de rastreio de Tuberculose Latente (TL), nomeadamente radiografia tórax e IGRA, que se revelaram negativos.

O doente recorreu ao serviço de urgência (SU) por um quadro com duas semanas de evolução caracterizado por febre (39.2ºC), cefaleias, mialgias, abdómen distendido, tosse produtiva e perda de peso, referindo ainda mau estar geral nos últimos 4 meses. Realizou Tomografia Axial Computorizada Abdomino-pélvica (TAC AP) no SU que demonstrou um padrão micronodular pulmonar e adenomegálias mediastínicas.Por suspeita de Tuberculose realizou estudo etiológico com baciloscopias, cultura e PCR (Polymerase Chain Reaction) da expectoração, que se revelou negativa. Fez paracentese diagnóstica que cumpria critérios de exsudado e apresentava um valor de adenosina deaminase de 67 U/L. Sem isolamento de agente nas baciloscopias e exame cultural do líquido ascítico. Procedeu-se então a broncofibroscopia com lavagem broncoalveolar, amostra na qual se realizou um teste PCR para Mycobacterium Tuberculosis, com resultado positivo, tendo sido assumido o diagnóstico de Tuberculose Disseminada (TD) Pulmonar e Peritoneal.A reativação da TL em pacientes a receber terapêutica com imunomoduladores anti Factor de Necrose Tumoral (anti-TNF) é uma complicação conhecida e que já foi reportada em doentes com testes de rastreio negativos. Os métodos disponíveis para o diagnóstico de TL não apresentam a especificidade e sensibilidade adequadas para a sua exclusão. O mesmo se aplica aos métodos disponíveis para detetar a presença de Mycobacterium Tuberculosis no fluído ascítico.Apresentamos este caso para salientar a importância de manter um elevado grau de suspeição clínica perante a hipótese diagnóstica de TD, num contexto em que a maior parte dos testes diagnósticos apresentam baixa acuidade diagnóstica.