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“É preciso ter uma visão mais científica do erro”
quinta-feira, 26 novembro 2020 15:58

“É preciso ter uma visão mais científica do erro”

No âmbito da sessão “Ten Tips para reduzir o erro”, que decorreu na Semana Digestiva 2020, o Dr. Ricardo Freire, gastroenterologista no Hospital CUF Torres Vedras, abordou, em entrevista à News Farma, a questão do erro médico, do estigma que está associado à temática, bem como do facto de, hoje em dia, se “continuar a ignorar o erro”.

“O erro existe e tem de ser entendido como algo que vai muito além do indivíduo, uma vez que está relacionado com o sistema. Somos humanos e erramos, no entanto, os sistemas devem ser responsáveis por saber onde é que se falhou e quais as consequências do erro, para que se consigam desenhar mecanismos de contra verificação, que permitam que o erro seja minimizado. No entanto, é impossível melhorar se continuarmos a ver o erro como uma questão de culpa individual, e não como um todo”, esclareceu o especialista.

Outro aspeto que salientou foi o facto de sentir que, atualmente, é essencial distinguir o conceito de “efeito adverso” do de “erro”. Para o especialista, são duas situações distintas, mas que, por vezes, são tidas como sinónimos, o que gera confusão ao nível da sociedade. “Erro e efeito adverso não são sinónimos, embora alguns efeitos adversos possam resultar do erro. No entanto, a maior parte das reações adversas são inerentes à própria técnica e surgem mesmo quando há um cumprimento de todas as medidas. Agora, se alguns meios judiciais continuarem a entender que uma reação adversa é resultante do erro, ou a culpabilizar o executante por alguma reação adversa que é decorrente da própria técnica, pode-se estar a incorrer numa situação que, daqui a poucos anos, ninguém vai querer fazer alguns procedimentos”, argumentou.

No seu entender, é “preciso encarar o erro numa perspetiva de qualidade e de segurança dos serviços que são prestados, enquanto sistema, e não como resultado de uma atitude negligente e individual”.

“Estamos a assistir a uma mudança de paradigma, no sentido em que passamos de um erro que é culpa do individuo, para uma melhoria da qualidade e da segurança dos cuidados que prestamos de uma forma aberta, honesta e pondo a tónica nessa questão da qualidade e da segurança, e para tal é preciso retirar o estigma da culpa, retirar o estigma do erro e ter uma boa capacidade de comunicação com os doentes, bem como uma boa capacidade de auditoria interna daquilo que fazemos, e de como é que podemos melhorar”, concluiu.